sexta-feira, 19 de abril de 2024

Apartes - Casimiro Cunha

 




Apartes 

Casimiro Cunha

 

Não olvides que o silêncio


Vitória e virtude encerra.


Vencer sobre a própria língua


É mais que vencer a guerra.


*


Aprende a buscar proveito


Nas sombras de tua dor.


Muita vez, do esterco imundo


A planta retira a flor.


*


Mal vais se a louca ambição


É o gênio com que te isolas.


Quem muito estima a demanda


Acaba pedindo esmolas.


*


Esforça-te a prol do bem


E terás horas tranquilas.


O Senhor espalha as nozes


Mas o homem deve abri-las.


*


Nossa vida deve ser


Fonte cantando à bondade.


Água estanque e sem proveito


É cofre de enfermidade.


*


Trabalha constantemente


Se procuras luz e paz.


O tédio é a chaga invisível


Daquele que nada faz.


*


Voa o tempo como o vento,


Dia a dia, hora por hora.


Se queres felicidade,


Faze o bem, aqui e agora.


 

XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Casimiro Cunha. Gotas de luz. Rio de Janeiro: FEB, ed.9 , 1.994. Cap. 4,p.9.

 

quinta-feira, 18 de abril de 2024

O Cipó - Casimiro Cunha

 

 


 O Cipó 

Casimiro Cunha


Sobre a árvore frondosa que mostra calma infinita, abraçada ao tronco forte lá se vai o parasita.


Não atinge o cerne, a seiva, mas buscando a copa, as flores, enrodilha-se, teimoso, nas cascas exteriores.


Agarrado tenazmente, vai subindo vagaroso, alcançando o cume verde do arbusto generoso.


Aboletados nos cimos do castelo de verdura, o cipó audacioso aparenta grande altura.


Deita flores opulentas de expressão parasitária, avassalando a nobreza da árvore centenária.


Recebe os beijos do sol, embala-se na ternura da carícia perfumosa, da brisa mais alta e pura.


Mas, vem o dia em que o Pai, na lei de renovação, chama o tronco nobre e velho as bênçãos da mutação.


É aí que o cipó vaidoso demonstra o que não parece, voltando ao pó do chão duro, para as zonas que merece.


Quanta gente brilha ao alto, e, no fundo, inspira dó?


Há milhões de criaturas vivendo como o cipó.


Jamais olvides a lei de trabalho e obrigação, não queira mostrar-te ao alto à custa do teu irmão.

 

XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Casimiro Cunha. Cartilha da natureza.São Paulo/SP:Butterflay editora Ltda,2002, ed.1. Cap 64, p.65.

 

 

quarta-feira, 17 de abril de 2024

O Barbicacho - Casimiro Cunha

 


O Barbicacho 

Casimiro Cunha


Por vezes, na atividade das viagens, do transporte, o animal em disparada promete desastre e morte.


Por mais que sustenha a rédea e colabore o cocheiro, em tudo, paira a ameaça de rumo ao despenhadeiro.


Trabalhos imprescindíveis sofreriam dilação, se o condutor não agisse com firmeza e precisão.


Antecipando o terror da descida, abismo abaixo, o montador ou o cocheiro recorrem ao barbicacho.


Reage o animal teimoso, rebela-se e pinoteia, mas tudo cessa de pronto, na apertura da correia.


Se busca saltar de novo sob fúria mais violenta, eis que lhe vaza a boca espuma sanguinolenta.


De queixo posto no entrave, qualquer coice dado a esmo, se pode ofender os outros, dói muito mais nele mesmo.


Em pouco tempo o rebelde, agora sem mais descanso, trabalha tranqüilamente humilde, bondoso e manso.


Assim, também muita gente em falsa compreensão, ao invés de trabalhar, faz queixa e reclamação.

 

Contudo, à beira do abismo, antes da queda ao mais baixo, recebem os linguarudos as bênçãos de um barbicacho.

 

XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Casimiro Cunha. Cartilha da natureza.São Paulo/SP:Butterflay editora Ltda,2002, ed.1. Cap 57 ,p.58.